PB tem 50,9 mil crianças fora da escola

Rizemberg Felipe

Números mostram que a quantidade de crianças fora da escola cresce à medida em que a idade delas aumenta

Apesar das políticas públicas adotadas para melhorar o acesso à educação, a Paraíba ainda não conseguiu contemplar totalmente a população com esse serviço. No Estado, 9,03% de crianças e adolescentes com idades entre 10 e 17 anos estão fora da escola e os homens são os mais atingidos. É o que revela o Censo Demográfico 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É nessa faixa etária que deve ocorrer a conclusão dos ensinos fundamental e médio, segundo recomendação do Ministério da Educação.

De acordo com o IBGE, a população paraibana é estimada em 3.766.528 moradores. Destes, 564.502 passaram dos dez anos de vida, mas ainda não completaram 18 anos. Apesar de ainda estar em idade escolar, 50.960 não frequentam a sala de aula. Deste total, 26.569 são do sexo masculino e 24.391 do sexo feminino.

Os números mostram que a quantidade de crianças fora da escola cresce à medida em que a idade delas aumenta. Dos 50.960 habitantes que estão sem assistir aulas, 7.255 possuem entre 10 e 13 anos de idade. Na sequência, outros 12.435 têm 14 e 15 anos. Enquanto isso, a faixa etária mais atingida é a que compreende os 16 e 17 anos. São 31.270 adolescentes que já deixaram a escola. Entre eles está Givanildo Santos, que tem 19 anos e deixou de estudar aos 16. Ele estava na antiga sexta série do ensino fundamental (atual 7º ano), quando decidiu parar de frequentar a escola e não pensa em retornar aos estudos, apesar de morar a poucos metros de distância de um colégio público. “Eu comecei a trabalhar e ficou difícil para ir às aulas. Era cansativo. Eu penso em voltar a estudar, mas agora não”, afirma.

Para a professora doutora e coordenadora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Paraíba, Maria Socorro Nascimento, a fuga da escola não é causada apenas pelo início precoce de atividades remuneradas. Com formação em Pedagogia e doutorado em Sociologia, ela explica que o trabalho infantil ainda é um dos principais fatores da evasão e abandono escolares, mas não é o único.

“Ainda existem outros elementos que contribuem para isso, como a falta de orientação familiar. E não podemos deixar de considerar a influência das drogas. Em comunidades periféricas, muitas crianças estão envolvidas de uma forma ou de outra, diretamente ou indiretamente, com as drogas. Ou ela própria usa, ou trabalha para o tráfico ou tem familiares envolvidos com a droga”, observa.

Para a especialista, as políticas públicas criadas na área da educação surtiram resultados positivos, mas ainda não são suficientes para sanar totalmente os problemas que impedem as crianças e adolescentes de permanecerem na sala de aula. “O próprio sistema capitalismo promove exclusão. Muitas crianças viram 'aviãozinho' do tráfico porque o pai não tem emprego ou porque o pai já está envolvido com isso. É preciso fazer investimentos em outras áreas estruturantes. Não basta apenas investir em educação”, declarou.

MAIOR CONCENTRAÇÃO É NA CAPITAL

Dos 50.502 habitantes que estão sem assistir aulas, 7.425 são residentes de João Pessoa. A capital é a cidade que concentra a maior quantidade de crianças e adolescentes fora da escola. Na sequência, aparecem os municípios de Campina Grande (3.661), Santa Rita (1.654), Bayeux (1.246) e Patos (1.196).

Em João Pessoa, o governo municipal está tornando as escolas mais atrativas, para mudar essa realidade apresentada pelos números. Segundo a secretária adjunta de Educação da capital, Edilma Ferreira, das 95 escolas mantidas pela rede, 12 funcionam em tempo integral e outras 75 possuem o Programa Mais Educação, criado pelo governo federal.

Nas duas modalidades, as crianças passam dois turnos dentro do colégio. Chegam pela manhã e só saem ao final da tarde. Em um horário, elas assistem aulas teóricas e, no outro, participam de atividades recreativas, esportivas e lúdicas. “A nossa intenção é tornar a escola mais atrativa e fazer com que a criança fique mais tempo no colégio. Por isso, estamos adotando programas sociais que se integram para garantir o acesso e a permanência do aluno em sala de aula”, disse a gestora.

Ela acrescenta que a Secretaria de Educação trabalha em parceria com outros órgãos para suprir outras necessidades sociais do estudante. Uma dessas medidas foi a criação do Passe Livre, que concede passagens de ônibus para os alunos da rede municipal frequentarem a escola.

Na rede estadual, segundo a Secretaria de Educação, outras medidas também são adotadas para atrair e manter os alunos na escola. Entre as ações estão os programas “Alfabetização na Idade Certa” e “Saberes da Infância”.


Nathielle Ferreira
JP Online

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